Pediatra & Neonatologista
Diretor do Departamento
HPA Magazine 17
A meningite na criança é um importante problema de saúde pública e, apesar dos avanços feitos nas últimas décadas, a mortalidade associada a esta doença têm-se mantido praticamente inalterada. Atualmente a taxa de mortalidade inerente a esta condição permanece elevada, entre 5% e 15%, e as sequelas permanentes, como surdez e alterações do desenvolvimento psicomotor, ocorrem em cerca de 25% das crianças sobreviventes.
A maioria dos casos, cerca de 70%, ocorre antes dos cinco anos, daí a importância de vacinar nos primeiros anos de vida.
Nem sempre é fácil reconhecer os seus sintomas. Nas fases iniciais, são semelhantes aos de uma gripe ou de uma gastroenterite, mas a doença pode evoluir rapidamente e ser fatal em poucas horas.
Inicialmente, a meningite pode manifestar-se por vómitos, náuseas, dores musculares, febre, cefaleia, extremidades frias e erupções cutâneas que persistem sob pressão. Estas começam sob a forma de pequenas manchas/pontos roxo-vermelho escuro e progridem, por todo o corpo, assemelhando-se a nódoas negras.
Em crianças mais velhas, verifica-se rigidez do pescoço, dores articulares, sonolência ou estado confusional, fotofobia, calafrios com extremidades frias e erupção cutânea descrita anteriormente.
Nos bebés, a meningite pode manifestar-se por choro, fontanela anterior mais saliente, dificuldade em acordar, membros flácidos ou muito rígidos, recusa alimentar, respiração difícil e erupção cutânea.
Diagnóstico
O diagnóstico baseia-se na história clínica, no exame médico e em testes complementares. Destes, os mais importantes são as análises ao sangue e a punção lombar, que permite colher e analisar o líquido cefalorraquidiano que circula em torno do cérebro e da medula espinal, sob as meninges. Este é, de longe, o exame mais importante.
Tratamento
O tratamento depende da idade, da gravidade da doença, do agente causal e da presença de outras patologias associadas.
As meningites virais, muito mais frequentes, resolvem-se rapidamente, e apenas com tratamento sintomático.
Nas bacterianas, o tratamento é fundamental e envolve internamento, antibióticos e medicamentos de suporte. Neste tipo de meningites as bactérias podem invadir a corrente sanguínea causando um quadro de infeção generalizada (sépsis ou septicemia) e deve ser considerada uma emergência médica, pois é muitas vezes fatal.
Prevenção
No que diz respeito à prevenção, existem diversas vacinas que previnem a meningite por meningococo (sero grupo B e C), pneumococo e Haemophilus e que são administradas na infância. Algumas estão inseridas no Programa Nacional de Vacinação (PNV), sendo gratuitas, e outras têm de ser adquiridas, por não pertencerem ao PNV.
O médico deve ser sempre consultado no planeamento das diversas vacinas disponíveis para a prevenção da meningite.
Apesar de estarmos em período pandémico, a partir de 1 de outubro de 2020, o PNV passou a incluir uma nova vacina contra uma estirpe bacteriana, a vacina anti meningococo do sero grupo B.
Esta vacina estava disponível no mercado privado há vários anos (ou seja, os pais tinham de a comprar) e todos nós pediatras já a recomendávamos a todas as crianças seguidas em consulta. Passa agora a estar disponível para todas as crianças nascidas a partir de 1 de janeiro de 2019. Para as crianças nascidas antes dessa data a vacinação continua a não pertencer ao PNV, pelo que deve continuar a ser recomendada.
Existe ainda uma vacina não incluída no PNV, mas dada a sua importância e seguindo as recomendações da Sociedade Portuguesa de Pediatria e da Comissão de Vacinas da Sociedade Portuguesa de Infeciologia Pediátrica, os pediatras e os médicos de família, continuam a recomendá-las a todas as crianças que estejam suscetíveis a esta doença. Trata-se da vacina anti meningococo do sero grupo ACWY.